terça-feira, 29 de dezembro de 2009


Ainda é privilégio

Caríssimos leitores, boa tarde.
A leitura sempre se constituiu, na maior parte da História – tanto a mais remota, quanto a moderna e até a recentíssima, que classifico de contemporânea – em privilégio a que pouquíssimas pessoas tinham (e em alguns casos ainda têm) acesso. Durante milênios, por exemplo, era algo impossível, já que sequer havia sido inventada a escrita.
Após essa revolucionária invenção, continuou sendo restrita a um número incipiente de indivíduos, os raros que entendiam os símbolos convencionados (no caso as letras) criados para expressar pensamentos e sentimentos e registrar fatos e informações e que sabiam, portanto, como interpretá-los e utilizá-los.
Ademais, os meios físicos existentes para receber os textos (em princípio rochas talhadas, depois tabuinhas de barro e na sequência papiros, peles de animais etc. até se chegar ao papel como o conhecemos hoje) eram raros. E, portanto, caros.
Mais escassos ainda, por sua vez, eram redatores. E os meios de difusão de textos, muito mais ainda. O livro, tal como o conhecemos, passou a ser difundido em relativamente larga escala apenas a partir de 1442, quando Johannes Guttenberg deflagrou a maior revolução de todos os tempos, com a invenção dos tipos móveis. Só a partir daí, seria “universalizado”.
Isso, todavia, não queria dizer que os escritores, a partir de então, haviam recebido, de bandeja, de mão beijada, vasta clientela a quem destinar suas obras. Havia, ainda, um obstáculo imenso a ser transposto: a alfabetização.
Até meados do século XIX, eram pouquíssimos os que sabiam ler e escrever, e isso em centros bastante avançados cultural e materialmente, como a Europa e os Estados Unidos. No Brasil... a taxa de analfabetismo beirava, então, os 100%.
Hoje, há países em que, virtualmente, já não há mais nenhum analfabeto. Todavia, nem todo alfabetizado é “consumidor” desse produto de tamanha importância. Na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, onde a leitura é razoavelmente difundida, seu “consumo” está aquém, muito aquém do verdadeiro potencial. Nem todos os que “sabem” ler gostam de fazê-lo.
No Brasil, então, o número de leitores habituais, mesmo que apenas de jornais e revistas (e até os de histórias em quadrinhos), não chega a 10% dos verdadeiramente alfabetizados, que nem mesmo são muitos, porquanto temos que levar em conta os “analfabetos funcionais” (muitos dos quais, até, com diplomas de segundo grau).
A leitura, portanto, foi, por 12 mil anos e continua sendo atualmente (agora por razões diferentes), privilégio para poucos, diria, pouquíssimos. Daí eu não me preocupar muito com quantidade de freqüentadores do Literário, mas com qualidade de frequência.
Quero que haja muitos leitores, sim, e quantos mais, melhor. Porém que sejam conscientes, críticos e que verdadeiramente amem essa aventura do espírito, que tende a melhorar, em todos os sentidos, quem é contaminado por esse bendito “vírus”.
Defendo a necessidade das pessoas lerem todos os tipos de textos que lhes caiam em mãos, mesmo os considerados nocivos por alguns (como os livros do Marquês de Sade, por exemplo, escabrosos e frutos de mente doentia, que chegam a dar engulhos nos mais sensíveis), mas com espírito crítico aguçado, para distinguir valores de vícios; beleza de horror e o sublime do horrendo etc.
O filósofo e político inglês, Francis Bacon, escreveu, a esse propósito: “Há livros de que apenas é preciso provar, outros que têm de se devorar, outros, enfim, mas são poucos, que se tornam indispensáveis e que, por assim dizer, se deve mastigar e digerir”.
Para fazer essa distinção, contudo, faz-se necessário, reitero, ler de tudo. Mas, insisto, essa leitura tem que ser feita com o senso crítico devidamente aguçado, para não se confundir o “manjar dos deuses” com simples excremento e não se “devorar” este último, achando que se está comendo o primeiro.
Tanto quanto ler, é necessário desenvolver a escrita.. Se a leitura continua sendo privilégio para poucos (e a Unesco informa que um quinto da humanidade ainda é constituído de analfabetos), imagine contar com essa habilidade rara e nobre!
É uma bênção, é um talento que não tem preço, mas que deve ser melhorado sempre e sempre e sempre, até se aproximar da perfeição (embora esta seja interdita a nós, humanos). Porquanto o já citado Francis Bacon também observou, com propriedade, sabedoria e lucidez: “A leitura traz ao homem plenitude; o discurso, segurança e a escrita, exatidão”.

Boa leitura.

O Editor.

3 comentários:

  1. Saber ler e conseguir expor suas idéias na forma de escrita é uma benção que poucos podem enxergar.
    Essa é uma das benditas estatísticas que gostaria
    de ver transformada.
    beijos querido editor.
    Feliz 2010 e muito sucesso nos seus projetos.

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  2. Escreveu bem, pois estimulou a vaidade dos demais.

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  3. 2010 Desejos de felicidades, para todos do literário e muita imaginação.
    Beijos Pedro gostei muito do seu texto.Não é mentira rs.
    FELIZ 2010

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