sexta-feira, 20 de novembro de 2009


Verdadeira consciência

C
aríssimos leitores, boa tarde.
Este feriado (que, infelizmente, não é nacional) vem a calhar para que façamos uma reflexão madura e consciente sobre os males do preconceito, seja de que natureza for. É oportunidade mais do que feliz para que comecemos a fazer com que a verdadeira consciência sobre a dignidade, solidariedade e rigorosa tolerância face às diferenças finque raízes nos corações e mentes de todos, sem exceção, e assegurem um relacionamento justo e correto entre a totalidade dos brasileiros, não importando sua raça, credo, gênero ou condição social.
O que conta, e sempre deve contar, na formação de uma nacionalidade (no caso, a nossa), para que possamos alcançar, afinal, nosso nobre destino, de superpotência do século XXI, é a irrestrita igualdade de direitos e deveres entre todos, absolutamente todos os brasileiros.
O Brasil (não é novidade para ninguém) conta com a segunda maior população negra do Planeta. Perde, neste aspecto, apenas para a Nigéria, o país mais populoso da África. Cerca da metade dos nossos habitantes é negra ou tem descendência negra, mesmo que remota.
É esse contingente, ainda tratado de forma cruelmente desigual (basta atentar para todas as estatísticas), que tem que ser definitivamente incorporado à sociedade e transformado em dínamo do nosso progresso. Por isso, não pode e nem deve continuar marginalizado ou tratado com menosprezo. Até porque o País tem uma dívida impagável com essas pessoas.
A maior parte da fortuna amealhada por inúmeras pessoas em passado ainda relativamente recente (a escravidão foi abolida há apenas 121 anos) foi obtida às custas do trabalho escravo. Ou seja, sob qualquer espécie de enfoque que se queira (legal, moral etc.), é, no fundo, ilegítima. Não foi conquistada com o que legitima a posse de qualquer espécie de bem, ou seja, com trabalho pessoal, competência, tino comercial, mentalidade de poupança etc.
Portanto, é imensa, é enorme, é infinita a dívida que este país tem para com quase metade da sua população. Chegou o momento dela pelo menos começar a ser paga. Mesmo que em “suaves prestações”.
Zumbi dos Palmares foi escolhido como símbolo desse Dia da Consciência Negra. Tratas-se de justíssima homenagem a quem lutou pela liberdade, a própria e a de seus companheiros de infortúnio. Todavia, uma outra figura cresce em nossa mente e coração e se agiganta, a requerer justiça. Merece, nesta data, igualmente, toda nossa reverência e admiração. Trata-se de João Cruz e Sousa.
Se Zumbi é o símbolo guerreiro, digamos político, da comunidade negra, o poeta catarinense é o “espiritual”, o do criador, o do talento, o da competência e da sensibilidade. Deixo, pois, para o seu deleite e reflexão, dois fantásticos sonetos deste magnífico intelectual (negro) brasileiro.


Piedade

O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tábuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inútil nos amargos trilhos.

É como se o meu ser compadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!

O grande Momento

Inicia-te, enfim, Alma imprevista,
Entra no seio dos Iniciados.
Esperam-te de luz maravilhados
Os Dons que vão te consagrar Artista.

Toda uma Esfera te deslumbra a vista,
Os ativos sentidos requintados.
Céus e mais céus e céus transfigurados
Abrem-te as portas da imortal Conquista.

Eis o grande Momento prodigioso
Para entrares sereno e majestoso
Num mundo estranho d'esplendor sidéreo.

Borboleta de sol, surge da lesma...
Oh! vai, entra na posse de ti mesma,
Quebra os selos augustos do Mistério!

Boa leitura.

O Editor.

5 comentários:

  1. Acho chato, chatíssimo, estranho, estranhíssimo, lamentável, lamentabilíssimo que um assunto como este, de que tratei, não sensibilize ninguém. Seria o quê? Preconceito? Preguiça? Comodismo? Confesso-me cada vez mais decepcionado e desanimado com a falta de participação em um espaço voltado para pessoas cultas e bem-informadas. Como é chato pregar no deserto! Parece que há um complô contra o que escrevo. Sou eu que estou atrapalhando o Literário? Querem que eu saia? Se quiserem, é só dizer. Saio imediatamente e estaremos conversados!

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  2. Falando em consciência negra...hoje depois de passar um mal bocado por conta do calorão, tive que recorrer à emergência de um UPA. Tive tempo suficiente para observar o comportamento das pessoas e fiquei decepcionada com o que vi...a forma de atendimento para os negros era um e para os não negros era outro. Uma senhora de cabelos brancos deu uma sugestão para que fossem melhor atendidos; que sempre que recorressem às emergências, que usassem uma roupinha melhor...
    E eles agradeceram efusivamente.
    Que país é esse?

    beijos

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  3. Essa tema, polêmico por natureza, levou-me a escrever hoje um texto sobre o racismo: " Cordial. Pois sim!" Devido ao assunto ser palpitante, muitas pessoas retornaram. Eu mesma me emocionei. Sobre o seu enfoque, achei perfeito e irrefutável. Parabéns Pedro!
    Oh, agora que vejo que o comentário acima é seu. Pensei tratar-se de Daniel, que sempre comenta aqui, todos os dias. Bem, eu vim ler, admirar e comentar.

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  4. ah, dá um tempo pedro! acabar com o blog? vc já deve ter vivido há tempo o bastsnte na net pra saber que o povo q navega na rede só quer saber do próprio umbigo. não é que as pessoas não gostem de comentar, elas tem é medo de escrever alguma coisa que ofenda o autor, só isso. Depois de quase seis meses à frente do meu blog, já me acostumei com essa indiferença toda. o que importa é o tráfego no site, que só aumenta. pra postar e "ouvir" besteira, o melhor é nem "ouvir" nada. afinal, tu és uns 40 anos mais velho que eu e fica aí de choradeira. não pega bem pra um escritor de renome como você, certo?
    a propósito, o texto tá mesmo o máximo, como minha mãe bem disse. continue assim!

    meu mais sincero aperto de mão

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  5. Caro amigo Pedro, não "esquente", por favor. As pessoas leem e não comentam, gostam e não falam. As pessoas só comentam quando provocadas.
    Aliás, você as provocou, no seu comentário.
    Abraço fraterno.

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