sexta-feira, 30 de outubro de 2009




Melancia ninguém come sozinho

* Por Rodrigo Ramazzini

Quatro amigos em uma mesa de bar. Conversam sobre o óbvio: mulher e futebol. Não necessariamente nesta ordem. Discutiam a próxima rodada do Campeonato Brasileiro, quando, depois de uma breve pausa, o Nico exclamou:
- Olha lá!

O “lá” que se referia o Nico era o casal formado por Rômulo e Camila, que caminhavam em direção à mesa. Camila era uma morena de longos cabelos lisos, de sorriso largo e fácil. Um percebível sinal de nascença próximo a orelha direita dava-lhe um charme especial. Estava vestida com um par de botas pretas e com uma calça jeans azul clara de “cintura baixa”, colada nas torneadas coxas e que mostrava a forma arredondada, avantajada e firme dos glúteos. A cada passo um suspiro do pessoal da mesa, que assistia a um bailar sincronizado de cada nádega, associado aos fartos peitos e uma pequena “tira” exposta, entre a calça e a justa blusa, que deixava a mostra uma parte da barriguinha emoldurada por horas de academia, que a tornava ainda mais sexy.

Enquanto o casal de aproxima da mesa, apenas pequenas palavras são ditas:
- Nooosa!
- Perfeita, meu!
- Muito gata essa mulher!

A poucos metros da mesa, Rômulo percebendo que a turma apreciava a chegada do casal ao bar, e lógico, exclusivamente, a sua namorada, estufou o musculoso peito, que ficou visível devido à camisa colada ao corpo. Olhou para a turma e configurou o rosto com a felicidade de um campeão, de quem levava pela mão não uma mulher, mas um troféu. Passou pela mesa, que mantinha um abismal silêncio, olhou para os rapazes, e apenas baixou levemente a cabeça e soergueu as sobrancelhas, como se dissesse – “Ela é linda, eu sei! Podem olhar. Mas é minha!” – Passaram e sentaram-se a três mesas de distância.

Quem quebrou o silêncio na mesa foi o Jader, com um simples:
- Que bunda!
- Eu não sei o que essa mina quer com esse otário! - filosofou o Pedro, pegando o copo de cerveja.

O Nico dizia – “Bah! Demais! Demais!”- parecendo estar meio tonto, não acreditando na paisagem que acabara de ver.

Fora então que, o trio notara que o Betinho permanecera o tempo todo em silêncio, sem emitir nenhum som.
- O que foi, Betinho? Indagou o Pedro.

E inesperadamente, após uma breve pausa, o Betinho, com um ar sério no rosto, confidenciou:
- Há dois ou três anos... Eu fui namorado desta mulher. Ela me deixou para ficar com esse cara... Me traiu com ele!

Silêncio na mesa. Em um primeiro momento, ninguém acreditou na história – “O Betinho com um mulherão destes? - pensaram” - Mas antes que alguém discordasse da narrativa, um leve aceno emitido pela mão direita de Camila em direção ao Betinho, trouxe veracidade ao fato. Silêncio na mesa. O pessoal não sabia se o elogiava ou o consolava. O Nico foi iniciar dizer alguma coisa, mas foi interrompido por Betinho.
- Não vamos ficar assim, gente! É passado! Passou, passou... E foi enchendo com cerveja os copos.

Mas sentindo-se na obrigação em falar uma palavra de consolo, o Nico não hesitou e proferiu as sábias palavras:
- Não adianta! Mulher gostosa é quem nem melancia: ninguém como sozinho mesmo!

E diante de tamanha bobagem, todos gargalharam, inclusive o Betinho, e seguiram falando de mulheres e futebol, não necessariamente nesta ordem.

* Jornalista

2 comentários:

  1. Essa é uma grande verdade: melhor dividir um prato de caviar com os amigos do que comer um prato de jiló sozinho. Os suíços sabem disso como mais ninguém: inventaram a fondue - uma tigela em que todos metem o seu pauzinho. E como se fartam!

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  2. A frase que se refere a mulher boa como troféu, foi lapidar. É claro que todas querem ser "bonitas e gostosas", e muitas não são nada disso. Ser tão chamativa atrai atenção demais, e apenas as muito equilibradsas, que não são tantas, conseguem segurar. Texto hilário.
    reparo: não seria "perceptível"?

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