quinta-feira, 29 de outubro de 2009




As mãos da música

* Por Cacá Mendes


Nos meus tempos de produtor de espetáculos de terceiros, de teatro, dança, música e outros quês, entre corres e agitos de um profissional que precisa ter olhos esbugalhados pra tudo, num desses dias de temporadas, antes do xis horário do ensaio do balé Forró for all (coreografia de Ana Mondini), com passagem de som, porque havia música de vivo pra vivos - no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, fui recepcionar na portaria do Teatro, na entrada dos artistas, nada mais nada menos do que Oswaldinho do Acordeon. A cria legítima de Pedro Sertanejo (o homem que trouxe o forró e seus pé-de-serra pra São Paulo dançar e curtir à vontade em casas do ramo, fundadas por ele – para que os irmãos nordestinos ficassem em casa, nos finalmentes, mesmo longe dela).

Mas voltando no voltando, que é o importante disso, lá naquele ido, como acima escrevia... fui buscar o artista e músico, e pra ir ao palco, ter acesso àquele pódio, não havia e não há (acho) outro acesso a não ser por longas escadarias. Entre tapinhas nas costas e coisa e coisa, oba, oba e comos vais, quanto tempo, oh, poxa, puxa, ah, uh, oh... E assim foi que solicitei, pedi-lhe com bastante recato, que me desse a honra de levar o seu instrumento, assim o descansaria um pouco. O que o fez prontamente e agradecido. E lembro-me bem do seu dizer de pronto, de rápido e sincero num saber:
- Cacá, todo artista que necessita tanto das mãos, nunca deveria fazer qualquer esforço com elas, sob risco de colocá-las em perigo, por isso essa sua ajuda é bem-vinda. Pode levar, leva.

Oh, eu não me lembro o exato do meu concorde em dizeres, mas não foi de espanto mesmo, compreendi a astúcia do pleno, pois o seu instrumento é uma ferramenta pesada pra carregar no assim, no vão do transportar, sem o seu uso de ser que é, o em função do seu juízo estético.

(E pensando depois, em debate comigo, imaginado, com o bem das coisas no exato para o êxito, o simbolizado aqui haverá, pra quem quiser, claro, de servir, em vida profissional ou não, a todos os viventes, pois).

Até tento neste reproduzir, traduzir em gotas, que sejam, um pouco também daquele exemplo de pessoa tremendamente humana, gentil e com uma educação dos raros, dos poucos. Coisa que só os bons, na sua totalidade de alma, na sua plenitude de profissional e gente, podem ser. Ah, coitados dos tolos que andam no empinado do nariz, no alto das grosserias, no cume, no cimo das prepotências! Ah, não sabem, não vão saber nunca o que estão perdendo da vida, não vão saber. É uma pena? Será?

* Jornalista – blog: www.cronicaseg.blogspot.com

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