quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Índio pataxó

* Por Rosana Maria

Sexta-feira e estou saindo do trabalho que, por sinal, estava uma chatice. Fui para um happy hour com uma amiga. Chegamos a um bar, na Asa Norte, não me lembro o nome, mas sei que é perto da onde trabalho, já que detesto ficar procurando um lugar para sentar e conversar, então, fico com o primeiro. O ambiente era tranqüilo, apesar de uns caras com o som alto de um carro estacionado ao lado do local. Típico de Brasília!

Sentamos, conversamos, falamos mal do chefe é claro! E da roupa da recepcionista que, por sinal desenvolveria, um ótimo trabalho noturno pelas ruas da cidade. Lembro dos comentários. “Você lembra da festa de fim ano como ela estava vestida? E o jeito como dançou?” Fofocas de mulheres à parte.

Fez uns trinta minutos que estávamos esperando o garçom, que chega com a cerveja meio morna. Fazer o que? Dois homens ficam nos encarando e como quem não queria nada, contribuímos com os olhares. Passaram-se cinco minutos e a cerveja já quente. Ronaldo e Cleber se apresentam. O primeiro parecia trabalhar com informática. Mostrava um ar de “eu sei muito bem o que estou fazendo, eles é que não sabem nada”. O segundo parecia trabalhar com seguros. Estava com a cara mais cansada e a gola da camisa mais amarelada também. Papo rolando e no final Ronaldo pediu meu telefone. Achei indelicadeza da minha parte não dar, então, dei o número errado.

Ainda eram oito da noite eu e minha amiga resolvemos esticar a noite. Fomos fazer uma coisa que eu realmente não gosto, jogar boliche, lá mesmo na Asa Norte. Minha amiga resolveu tomar todas, literalmente, de tequila a vodka. Quis compensar a cerveja quente do outro bar. De repente, eis que chega ao local um pataxó. José era seu nome. Até ai, tudo bem. Mas, para a minha amiga, e agora embriagada, a coisa complicou. José sentou-se em nossa mesa para nos vender seus objetos artísticos e esquisitos. De tão bêbeda, e totalmente solta, minha amiga fez uma amizade um tanto colorida com o pataxó.

Não sei se a bebida, além de atrapalhar a visão, perturba também o olfato. O índio parecia que não tomava um banho há uma semana. Comprei uma coca-cola e um energético pra ver se despertava do efeito alcoólico antes que ela cometesse um desatino.

Enfim, depois de vomitar no banheiro, e ligar para o seu ex-namorado, ela voltou a si, e eu saí do boliche com cara de paisagem e jurei não voltar mais. Isso pra mim seria fácil, porque detesto jogar boliche mesmo!

Resolvemos pegar a última sessão de cinema pra ver se ela esquecia a coisa com o pataxó. Escolhemos o novo filme da Angelina Jolie. Não sei o que era pior, se a cena da minha amiga que terei contar para todos do nosso departamento na segunda de manhã, ou se a interpretação da senhora Pitt. Para ser sincera, triste mesmo foi ouvir o som do ronco da bêbada, que dormiu antes do filme acabar.

Fiquei imaginando se o Detran a pegasse dirigindo, tri louca como estava. Não iam aplicar apenas uma multa. Seria presa e levada direto a Papuda, por oferecer risco à população. Então, com toda a paciência que nunca tive, mas aprendi a ter naquela noite, ofereci à criatura dormir na minha casa. De certo que ela usou aquela frase estúpida, que todos usam quando bebem. “Eu dirijo melhor bêbada do que sóbria”.. Deixei-a ir, e fiquei imaginando como ela dirigia horrível então.
Cheguei em casa, tomei um banho de trinta minutos e desmaiei na cama. O meu telefone toca às 03h10 da madrugada. Era minha amiga, perdida porque não conseguia encontrar o caminho de volta pra casa. Com minha sempre e externada paciência, tentei conduzi-la pelo telefone a um lugar que eu nunca fui, mas que ela vai todos os dias. Depois de quarenta e cinco minutos, enfim ela achou sua casa e lá pelas 04h00 da manhã pude me deitar e dormir.

Antes de pegar no sono tomei uma decisão: além de nunca mais voltar àquele boliche, e de preferência a qualquer um, vou precisar de novas amizades. 04h05.

* Colaboradora do Literário

Um comentário:

  1. Lazer só com prazer. Mas há quem aproveite a ocasião que seria de relaxamento para se desreprimir, sem medir as conseqüências. E isso nunca acaba bem, embora tenha rendido crônica das melhores. Parabéns, Rosana.

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