terça-feira, 21 de julho de 2009




Retorno

* Por Carlos Nejar


Voltei da morte,
órfão.
Desci as escadas
do empório;
entre os móveis
e os suspensórios,
minha alma escorre.
Que alma?

Voltei da morte;
nada enxergo
se não a vida;
nada receio
de seus conselhos.
tudo me intriga
e sou tão velho
nesta medida.

Voltei da morte.
Larga a viagem
de meus confrontos.
Espelho torto,
vejo-me nela,
posta num canto.

Que alma é esta,
feita de engodos
e de florestas?
Nascida há pouco,
morta num pasmo,
ressuscitada,
deixada ao largo?

Voltei da morte,
voltei a salvo
do julgamento
e outro contágio,
achando em tudo
diverso modo,
diverso enleio
e o parentesco
vazio de enredo.

Voltei da morte
tão estrangeiro
na sua ordem,
descontraído,
míope no esforço
de compreendê-la,
estando morto.

Voltei, a tempo
e, a contragosto.

* Poeta

Um comentário:

  1. Voltou da morte, mas pelo tom, a ela retornará. A depressão feita em objetos e em detalhes.

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