sábado, 25 de julho de 2009




Não mande, faça!

* Por Seu Pedro

Valho-me da experiência de um velho preso que, achando sua caligrafia feia e sua capacidade de escrever textos românticos pequena, pedia a um companheiro de cela que elaborasse a correspondência que após assinaria e enviaria à sua amada, que deixara apaixonada quando de sua prisão.

Os anos se passaram, as cartas seguiam, e vinham as respostas, cada vez mais desejosas da liberdade ao amado. Recheadas de elogios aos escritos, as respostas demonstravam que a paixão do outro lado do muro aumentava. Chegou o dia da liberdade, coincidentemente de ambos: do apaixonado e do escritor das cartas. Surpresa; ela não casou com o que um dia amou, mas com quem, por anos, escreveu as frases de amor.

Conheço pessoas que, ao se aproximar alguma festividade, tiram um dinheiro da carteira, determinam a alguém que vá à loja de presentes e escolha uma lembrança para que ele satisfaça o dever social do dia. Com os laços originais do empacotar da loja, seguem por outro portador ao destinatário. Algumas vezes vai por fora um cartão social assinado pelo comprador, que nem sequer viu o que presenteou. Não vale como afeto e carinho tanto quanto se fosse entregue em mãos e se fosse um presente que tivesse uma escolha personalizada. “Só te dou uma rosa, mas colhida por mim no canteiro que, pensando em ti, um dia plantei”. A rosa, após algum tempo, secou no jarro de água, mas o cartão, a alegria e as boas lembranças daquela viúva pobre vivem até hoje.

Há coisas que não se manda, fazem-se. Somente com a alma de nossa busca as coisas são bem sucedidas. Por exemplo, e oportunamente, reescrever textos de terceiros como se fossem seus pode trazer em futuro frustração. Quando escrever um texto, faça-o com alma, saindo todo de dentro de você, sem preocupação com os pontos e vírgulas. Isto se aprende com a prática da escrita. Corrija, mas sem tenaz preocupação, os erros de concordância, mas concorde em uma coisa: ali terá sua alma, o seu sumo, e não um suco de pacotinho.

Um dia destes, e já contei este caso, encontrei um casal de pardais namorando em minha cama. Hoje um bando de pequenas aves se apossou de minha mesa na varanda, onde tomo café da manhã, e comigo ali, eles, desinibidos, bicam o farelo da brevidade que hoje escolhi. Por isto ao amanhecer não delego a ninguém a função de abastecer o comedouro e bebedouro dos pardais. Levo em mãos o milho quebrado e a água fresca. Pela cantoria que fazem ao sol nascer, merecem muito mais. Não deixo que outro se ocupe de minha tarefa. Vasi que as pequenas aves se apaixonam pelo jardineiro!

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.

Um comentário:

  1. Meu filho me condena por fazer todas as tarefas apaixonadamente. Mas só sei viver assim. Outras coisas não, mas comprar presentes já deleguei a uma amiga querida. Ainda não colhi fracassos nessa seara, mas o texto me faz ficar mais atenta para não deixar acontecer o que não desejo.

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