quinta-feira, 30 de julho de 2009


Gênero nobre

O ensaio é um dos gêneros mais importantes, instrutivos e úteis da literatura. Todavia, não se pode dizer que seja dos mais populares. Por que? Por tratar de assuntos que exigem vasta cultura do leitor para que este possa acompanhá-los, entender e usufruir minimamente dos seus ensinamentos.
Seus consumidores por excelência, pois, são filósofos, historiadores, sociólogos, cientistas, professores universitários e críticos literários, entre outros. Claro que qualquer pessoa pode (e deve) ler textos desse gênero. São fundamentais para a cultura de quem quer que seja. Poucos, no entanto, têm esse privilégio.
O ensaio é relativamente recente. Data do século XVI e um dos seus criadores foi o francês Michel Eyquem de Montaigne. É uma delícia ler suas explanações, que se constituem sempre num sofisticado “banquete de idéias” para satisfazer a fome do nosso espírito. Na Inglaterra, um dos precursores do gênero foi Francis Bacon, embora a terra da rainha tenha produzido (e continue produzindo) ensaístas notáveis.
Provavelmente, porém, o escritor do gênero mais conhecido mundo afora seja o norte-americano Henry David Thoreau. Seu livro “Desobedecendo”, clássico da literatura mundial, por exemplo, exerceu decisiva influência no pensamento e na ação de Mohandas Karamanchand “Mahatma” Gandhi, que o tomou por fundamento para estabelecer sua bem-sucedida estratégia de desobediência civil, ou seja, de resistência pacífica ao domínio colonial inglês, que resultou na independência da Índia.
E o quê, afinal, caracteriza o gênero? De acordo com a enciclopédia eletrônica Wikipédia, “ensaio é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, em que o autor expõe idéias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de determinado tema. É menos formal e, portanto, mais flexível que o tratado”.
E prossegue: “Consiste, também, na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um assunto (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental, literário etc.), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico”.
Para que o leitor tenha uma idéia, a maioria dos textos deste Editor, publicados em sua coluna “Ladeira da Memória” aqui do Literário, classificada, invariavelmente, de “crônicas”, é, na verdade, enquadrável, a rigor, no gênero ensaio. Trata-se da forma de expressão que ele mais aprecia (tanto para ler, quanto, e principalmente, para escrever) e com a qual se sente mais à vontade. É, portanto, apesar do seu relativamente baixo índice de leitura, o gênero mais nobre da Literatura.
Provavelmente a melhor definição de ensaio já feita até hoje seja a do filósofo e exímio ensaísta espanhol, José Ortega Y Gasset, que o caracterizou como “ciência sem prova explícita”. É isso aí, sem tirar e nem pôr. Pela importância do assunto, certamente voltaremos a tratar dele oportunamente.

Boa leitura.

O Editor.

2 comentários:

  1. Ótima mesmo essa lembrança dos ensaios, tão importantes na formação literária quanto pouco lidos até mesmo por escritores. Só vc mesmo, caro Pedro, com sua bagagem cultural, para nos apresentar tema tão relevante. Parabéns!

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  2. A crônica, dizem, é o gênero menos nobre da Literatura. Como o ensaio está na outra ponta, acredito que classificar um ensaio seu como crônica é um gesto de modéstia; a menos que você esteja querendo aproximar-se dos possíveis leitores, e por isso age assim. Já tinha notado que as suas crônicas exibem ensinamentos, o que não acontece com as demais. Além de geralmente mostrarem alguma citação.

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