segunda-feira, 22 de junho de 2009


Vilarejo goiano

* Por Armindo Branco Mendes Cadaxa

Para José Mendonça Teles

Esse bugrinho isolado
Lá nos confins do Brasil
Perdido em pleno cerrado
É tão belo quanto aqueles
Em prosa e verso cantados.

Seus palácios medievos
São o austero casario
Dos bandeirantes herdado
Rente ao chão, atarracado
Aqui e ali um sobrado.

Tem na praça uma igrejinha
Com janelas de sacada
E a sineira de madeira
Nada deve às torricellas
Da Toscana, da Calábria.

As pinturas das paredes
Pelo tempo desbotadas
São de Giottos mulatos,
Os santinhos dos altares
São de cerne de Angelim
A canivete talhados.
Têm a rudeza de linhas
A força inata da idade
De quando um fio de barba
Valia a honra empenhada.

Frente a ela está o prédio
Que foi Câmara e Cadeia
A base do pelourinho
Dos seus tempos de Julgado.
De minas e grupiaras.

Fica à sombra de fraguras
Mais altas do que as cinturas
Dessas cidades muradas,
Suas torres são rochedos
Por ameias coroados
Seus merlões, os interstícios
De onde foram arrancados
Pela chuva, pelos ventos
Desde a era permiana
Os cristais e o feldspato.

* Poeta e diplomata de carreira, autor dos livros “As peças ligeiras”, “Jardim de inverno” e “A volta”.

Um comentário:

  1. Que bela homenagem ao cenário original! E tudo segundo rimas que conduz a leitura num ritmo delicioso como quem sobe ladeirinhas centenárias, onde ouvimos ainda o rocegar dos pés de nossos ancestrais. Parabéns, Armindo!

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