quarta-feira, 17 de junho de 2009




O espelho da felicidade

* Por Seu Pedro

Pense em uma jovem de vinte anos cursando o terceiro semestre de biomedicina. Pense em uma jovem que passou em destacado lugar na prova do Enem. Pense em uma jovem que sorri e dá graças a Deus a cada minuto de sua vida. Pense em jovem que depende de cadeiras de roda para se locomover. Pense em uma jovem que foi vítima da poliomielite; Pense em uma jovem que operou e retirou um rim, usando uma sonda para limpar a bexiga; Pense em uma jovem que paga metade do valor da faculdade, sendo pobre e tendo um irmão de dezesseis anos portador de Síndrome de Donw... Pensou? Então misture todos estas qualidades, e encontrará Adriana Aranha Ramos, moradora do pé do morro conhecido por Monte Pascoal, aqui em Guanambi.

Seu corpo retorcido, em cima de uma cadeira de rodas das mais comuns, tem por enfeite um largo sorriso, e mensagens surpreendentes: “As pessoas não devem ficar com medo da vida. Não devemos nos insubordinar contra Deus, mas antes agradecer-lhe os momentos felizes e os tristes também. Os tristes ressaltam os momentos alegres, dão tempero à felicidade”. Reconhecendo os altos e baixos da vida, em momento nenhum questionou a razão de ser diferente. Seus olhos demonstram que não tem inveja de quem anda corre e não depende de alguém ou de uma mãe, outra heroína, para se locomover “a pé” pelas rias da cidade. Após a licença médica pós-operatória deseja trabalhar meio expediente, para se aplicar nos seus estudos, e lembra: “Uma pessoa sem estudo é um paralítico sem cadeira de rodas!”

Fui visitá-la na manhã de hoje, a cinco quarteirões de casa. Fui de táxi por minhas dores nas pernas. Mas ao ver aquele sorriso, um corpo retorcido e franzino, porém sustentando e sustentado por um sorriso, as minhas dores se tornaram tão pequenas que eu já não as sentia. E começamos a conversar, a jogar conversa fora, a rir dos políticos engraçados que surgem em época de eleições. Olhamos álbuns de fotografias, desviamos o assunto do meu primeiro propósito: entrevistá-la e nada mais. Eu, que sai de casa apressado, não vi as horas passarem e nem tristeza por ali. Quase que fico para o almoço.

É uma coisa gratificante quando um jornalista vê suas perguntas respondidas sem meias-voltas, e na entrevista são acrescentadas sabedorias. Ao lado daquela jovem, explorando seu sorriso, não tive tempo de ter pena dela. Ela não meu deu brecha para isto. E cai no riso quando ela, fazendo-se de determinada, me avisou: “Se eu não gostar do que escrever, eu tomo um anabolizante e corro atrás de você". São pessoas assim que me dão vontade de ter uma penca delas à minha volta. Pois como disse Adriana: “O sentimento mais feliz, é sentir-se feliz!”

(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.


Um comentário:

  1. O Brasil é bem maior do que as notícias que editores sensacionalistas e histriônicos publicam por aí, e a medida desse "paisão" vive no anonimato das massas. Pois, viva Adriana, fulgurante na sua importância sem consciência. E, ao louvá-la, seu Pedro, o senhor se iguala, mostra que é, de fato, um jornalista com maiúsculo "J". Parabéns.

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