terça-feira, 23 de junho de 2009


Falta alegria

O mundo carece, cada vez mais, de alegria. As pessoas, a cada dia que passa, tornam-se (salvo honrosas exceções) mais solitárias, mais macambúzias, mais mal-humoradas e, sobretudo, mais tristes. É possível que essa evolução da solidão e do desamparo seja apenas quantitativa, dado o explosivo aumento da população mundial, notadamente a partir da última metade do século passado. Talvez...
É provável que as mazelas e infelicidades que assolam o homem deste início de século XXI sejam as mesmíssimas de sempre, embora afetando maior quantidade de gente. Nas grandes cidades, por exemplo, crescem, em progressão geométrica, a desconfiança e o medo.
Andar nas ruas, exercício há não muito simples e trivial, transforma-se, dramaticamente, em perigosa aventura, face aos inúmeros perigos, absolutamente reais, com os quais nos confrontamos, como assaltos, atropelamentos, balas perdidas etc., que expõem a risco não apenas nossa integridade física, mas, principalmente a vida. Corremos o risco de sair de casa para um simples passeio e jamais regressarmos. Ou de irmos parar num hospital com alguma grave mutilação que nos marque para sempre.
Como a Literatura é o reflexo da vida, do comportamento das pessoas de um determinado tempo, esta também anda, há já bom tempo, um tanto sombria e tensa. Falta, nela, o riso, o bom-humor e a alegria de escrever. Carece, por exemplo, da ironia de um George Bernard Shaw, da picardia de Mark Twain, da observação irônica e sempre inteligente de Mário Quintana, de Carlos Drummond de Andrade e, sobretudo, do “Bruxo do Cosme Velho”, Machado de Assis.
É verdade que temos bons escritores, e em profusão. Sinto, porém, que lhes falta o riso, embora abunde o siso; lhes falta a descontração, a observação galhofeira, o rir de si mesmo, em vez de escrachar pessoas humildes e fracas de cabeça, em textos que, não raro, descambam para o preconceito implícito (quando não explícito).
Está aí magnífico filão a ser explorado por escritores ousados e observadores que, certamente, lhes renderá bons dividendos caso se disponham a explorá-lo com competência, criatividade e picardia. Que tal trazer um pouquinho de alegria e de luz a um mundo crescentemente sombrio, violento, injusto, revoltante e, sobretudo, triste?

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Estamos sombrios sim, numa tristeza tão aguda que lágrimas pululam ao menor desagrado. Podemos tentar explorar esse filão. Eu não sei fazer isso. Espero que os colegas consigam resgatar um pouco de graça. Vejo Marcelo Sguassábia usar esse lado humorístico com muita propriedade. Que venham mais textos engraçados.

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