quinta-feira, 25 de junho de 2009


Exercício da crônica

Recentemente, um leitor aqui do Literário consultou-me a propósito do que deveria fazer para “escrever” um livro. Antes de me aventurar a dar qualquer resposta, perguntei-lhe o óbvio: qual o gênero que ele pretendia abordar. Respondeu-me: crônica.
Embora veterano em edição, não me sinto lá tão habilitado assim a opinar a esse propósito. O que posso lhe recomendar é com base, pois, em minha experiência pessoal que, avalio, seja bem-sucedida. Antes de tudo, recomendo-lhe que escreva crônicas diárias. Acerte com algum jornal, ou com vários, a publicação delas em suas páginas, digamos, semanalmente. Se não conseguir, crie um blog específico, para textos exclusivamente seus.
Ninguém (salvo raríssimas exceções) se propõe a escrever um livro de crônicas, com textos absolutamente inéditos, escritos só para esse fim. Não é assim que a coisa funciona. Praticamente todos os escritores bem-sucedidos no gênero (Rubem Braga, Fernando Sabino, Machado de Assis e tantos outros), reuniram suas melhores produções para jornais e revistas, selecionaram as que julgavam mais atrativas e bem-escritas e... pronto. Os livros estavam escritos.
Convém, todavia, que você deixe essa seleção para outra pessoa fazer (claro, alguém que goste e que entenda de Literatura). Em geral, o cronista, na hora de selecionar, por um motivo que nem sei mesmo explicar, nem sempre escolhe o que de melhor escreveu.
Reitero: adquira o hábito de “cronicar” (desculpe o neologismo) diariamente. Assunto, convenhamos, é o que jamais lhe irá faltar, dada a própria natureza do gênero. Basta olhar ao redor com atenção para que lhe surja a sugestão sobre o que escrever.
Tanto pode ser o vôo de uma borboleta, quanto a musiquinha enjoada dos caminhões de venda de gás. Às vezes o zumbir ameaçador de uma abelha lhe suscitará gancho para uma crônica, quem sabe, histórica (claro, se você tiver talento, que é o pressuposto básico que está implícito desde o início destas considerações). Ou, é possível, que aquela velhinha que vende flores nos faróis de trânsito para garantir o sustento lhe renda uma crônica digna de prêmio.
Se você fizer tudo isso, logo terá um volume enorme de textos para selecionar. Mas não se apresse em fazer a seleção. A pressa, conforme diz o surrado clichê, “é inimiga da perfeição”. E você não vai querer que seu livro se transforme em um monumental encalhe só porque se afobou, não é mesmo? Faça tudo isso e boa sorte! Se você for, de fato, exímio cronista, creia, não lhe faltarão editoras. Espero, pois, ver o seu livro pronto e liderando a relação dos mais vendidos. Se preferir, o Literário estará de portas semprte abertas para acolher os seus textos.

Boa leitura.

O Editor.

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