terça-feira, 23 de junho de 2009




Distante demais

* Por Fábio de Lima

Eu, sentado, esperando um sorriso de brincar
Eu, sentado, cheirando agosto perfumar meu norte
Eu, sentado, olhando pela curva perdida ao sol

Distante demais

Eu, sentado, fazendo bugigangas de argila
Eu, sentado, escrevendo na terra minha idade
Eu, sentado, dizendo baixinho nome de mulher

Distante demais

Eu, sentado, ouvindo no vento canção de ninar
Eu, sentado, traçando torto um caminho reto
Eu, sentado, mastigando gengibre torrado

Distante demais

Eu, sentado, aliança apertada no dedo
Eu, sentado, corda amarrada no pescoço
Eu, sentado, cabeça pesada na bandeja

Distante demais

Eu, sentado, loucura saindo da razão
Eu, sentado, dor em gotas caindo da alma
Eu, sentado, sorte dormindo muito longe


* Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

3 comentários:

  1. Ouvindo no vento canção de ninar? Pois, durma um pouco, amiguinho. Durma, que logo tudo passa. E, ademais, a gente sempre acorda mais forte, pronto pra montar no lombo dessa égua estabanada que é a vida e cumprir a estrada, o caminho, a saga. Grande abraço, Fábio.

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  2. Quando sabemos que a espera é inútil, melhor é esperar sentado, mesmo quando dormir para nunca mais acordar pareça uma saída.

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