terça-feira, 16 de junho de 2009




Amor de domingo (III)

* Por Fábio de Lima

Tivemos que ir em carros separados para o restaurante japonês. O bairro era distante do Parque do Ibirapuera e depois não compensaria, para mim ou para ela, ter que buscar o carro no parque. Então, parávamos os carros nos faróis, sempre lado a lado, falávamos pelo vidro, ouvíamos o que o outro estava escutando no som do carro, dávamos risadas, e assim fomos durante todo o trajeto.

- Até que foi rápido.
- Verdade, Dani. Não havia trânsito.

Entramos no restaurante e começamos, novamente, a falar sem parar. A Daniela parecia uma mulher saída de um dos meus sonhos de mulher ideal para estar ao meu lado. Tudo nela me encantava. Na verdade, aquele momento parecia um sonho e daqueles sonhos muito bons que a gente se frustra quando acorda. Por isso que eu pensava que se estivesse sonhando queria jamais acordar.

- Nossa, o sushi daqui é muito bom!
- Também acho, Dani. E o ambiente também é legal. Sou um freguês assíduo do lugar.
- Você vai pedir sobremesa?
- Não quero, mas eu chamo o garçom e ele nos traz o cardápio e você escolhe uma.
- Não, eu também não quero. Pensei em a gente ir embora – só por isso que perguntei se você ia querer sobremesa.
- Ah, você quer ir embora?
- Quero.
- Tudo bem. Pedirei a conta.

Aquilo me soou aos ouvidos como um balde de água fria na cara. Não, no rosto não. Na cara mesmo! Fiquei preocupado com a repentina vontade dela em ir embora. Pensei se havia falado algo ruim que a tivesse incomodado. Mas, antes que minhocas brotassem da minha cabeça como brotam da terra, a Daniela me surpreendeu mais uma vez.
- Eu só estou com pressa para que peguemos um cinema. Se você estiver a fim, é claro.

Eu não acreditei. Ela perguntava se eu estaria a fim. Será que ela não percebia que eu iria com ela até para o infinito?! Então, fiz um charme.
- Ir para o cinema com você?! Deixa-me pensar...! Sim, mas é claro que vou! Vou adorar!

E caímos os dois na risada. Minutos depois saímos do restaurante e fomos assistir ao filme Che, uma espécie de documentário sobe a revolução cubana, tendo como protagonista o ator Benicio Del Toro como Che Guevara. O filme foi muito bom e a companhia foi maravilhosa.
- Gostou do filme, Dani?
- Amei!
- Eu também.

Perto do cinema ainda tomamos um chocolate quente, cada um, e demos risadas relembrando as formigas do parque e a forma que nos conhecemos. Na hora de nos despedirmos – já com os respectivos telefones e e-mails trocados – tive muita vontade de beijá-la na boca, mas não tive coragem. Me arrependo até hoje por essa falta de coragem. Nunca mais vi a Daniela. Ela me disse, por telefone, dias atrás, que resolveu dar uma chance para um rapaz que conheceu no Rio de Janeiro e que, agora, está namorando. Portanto, o amor foi só meu e se restringiu a apenas um domingo. Nada mais que um domingo.

* Jornalista e escritor, ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO, com publicação (ainda!) em data incerta.

5 comentários:

  1. Nem um beijinho ?
    Frustrante, hein ?
    Uma leitora comentando um mini-conto que escrevi citou uma frase de Quintana que serve para o seu personagem : "Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer".
    Beijos sem remorso.

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  2. No segundo capítulo imaginei que uma amizade poderia ser mais duradoura que um namoro, e é melhor, já que não machuca. Diante de tantas afinidades, qualquer dia desses será possível um novo passeio. Muitas trocas poderão acontecer, como também novas crônicas. Daniela pareceu-me simpática.

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  3. Diante desse encontro feliz, narrado com tanta leveza, lamento o final, mas gostei muito de ler, Fábio! Bjs

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  4. Que pena, Fabio! E eu que pensava que iria dar em namoro pra valer...
    Beijos

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  5. Foi o que tinha de ser. Pelo menos, o domingo tornou-se inesquecível, e vc, caro Fábio, teve alguém especial por um dia inteiro. Mas depois ela ficou com alguém do Rio, é? Não fui eu, juro. Não faria isso a um amigo. Ao amigo, envio abraços e a sugestão de manter as corridinhas matinais. Sempre na estrada, sempre na estrada. Parabéns.

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