sábado, 23 de maio de 2009


Emoção e verdade

Emoção e verdade são dois componentes que caracterizam os bons textos literários e conquistam corações e mentes dos leitores. Claro que apenas essas duas características não bastam para que alguém seja considerado bom escritor (ou simplesmente escritor). Sem elas, contudo, o que se escreve se torna vazio, falso, artificioso e, não raro, chato.
Sequer menciono a necessidade da absoluta correção linguística, pressuposto básico e essencial para quem viva dessa atividade ao mesmo tempo fascinante e de extrema responsabilidade que é a de comunicar por escrito idéias, pensamentos, sentimentos, ações etc..
Poetas, cronistas e ensaístas têm, salvo raras exceções, esses ingredientes como fundamentos da sua produção. “E o ficcionista?”, perguntarão alguns, “como pode escrever com ‘verdade’ se a ficção já é, até por definição, uma invenção, uma história que nunca aconteceu ou, em outras palavras, uma mentira?”. Contistas, novelistas, romancistas ou autores de peças teatrais têm como escrever com “verdade” os enredos que inventam?
Com verdade absoluta, baseada rigorosamente em fatos, em ocorrências, em acontecimentos, não. Mas podem e devem escrever com verossimilhança. E para isso, quanto maiores forem suas experiências de vida, tanto maior será o seu sucesso.
Os bons ficcionistas “projetam-se” em seus personagens. Em todos eles (quer nos heróis, quer nos vilões, quer nos masculinos quer nos femininos, tanto em crianças, quanto em jovens, adultos ou idosos) conferindo-lhes características que de fato possuem. Ninguém escreve com convicção sobre o que desconhece. Corre o permanente risco de se dar mal.
Mesmo que inconscientemente, os ficcionistas, no momento em que estão redigindo suas histórias, pensam: “o que eu faria nessa situação em que coloquei meu personagem neste enredo? O que eu pensaria? O que diria?”. E assim por diante.
A experiência pessoal, portanto, conta, e muito na produção literária. Daí a atividade de escrever se constituir, simultaneamente, numa espécie de catarse, de exorcismo dos “nossos demônios interiores”, numa libertação e numa permanente tensão emocional.
Não conheço um único escritor que se preze que não se emocione quando escreve, mesmo que não se aperceba (a maioria não se apercebe). Daí muitos deles confessarem, amiúde, que consideram seu talento não na verdade uma bênção, mas uma espécie de “castigo”, de maldição, de carma e que temem aquele momento solitário em que, no silêncio do seu gabinete de trabalho, têm que se deparar, nua e cruamente, com suas emoções, fantasmas, anjos e demônios.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Não, claro, isso é frescura do humanismo. O que vale, além da experiência, da verdade e da emoção, é a madurez do caráter, pq (suspeito) a literatura não é apenas a mais nobre das artes: a literatura é categoria moral, doutrinária. Parabéns, sábio Pedro, pelo acerto, pelo acuro, das tuas palavras.

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