sexta-feira, 17 de abril de 2009


Vida com arte

Jornalismo e literatura têm muito mais pontos em comum do que aspectos diferenciadores. Nada impede – e é até desejável – que um adote a linguagem do outro e vice-versa, o que, nas duas categorias, só tende a tornar o texto mais atrativo e marcante.
Aliás, o Literário nasceu com essa proposta básica. Ou seja, a de permitir ao jornalista que utilize, com plena liberdade, as ferramentas do escritor. Que, sobretudo, graças ao seu inato talento, produza textos híbridos, transcrevendo a realidade, nua e crua, como ela de fato é, mas com arte e beleza, sem se ater aos tantos manuais de redação que engessam sua criatividade.
Guardadas as devidas proporções, o literato sempre foi uma espécie de “repórter do imaginário”. Na mais remota antiguidade, antes da invenção da escrita, eram os poetas, por exemplo, que exerciam o papel de jornalistas, difundindo, em versos, o que acontecia: guerras, amores, tragédias e todas as demais circunstâncias impostas pela vida.
Há cerca de meio milênio apenas, quando eram raros os homens letrados na Europa, os menestréis exerciam essa mesma função. Não há como discordar, por exemplo, da colocação da jornalista Karina Monteiro que, na crônica que publicou, ontem, no Literário, classificou o jornalista de “poeta do cotidiano”. Ele, de fato, o é.
Se nos remetermos ao significado original da palavra “poesia”, em grego, essa afirmação deixará de ser metáfora e será a mais legítima expressão da verdade. O termo “poesis”, substantivo derivado do verbo “poieô”, significava a ação do fazer. Indicava, pois, a realização, o ato, a produção de algo, além da modificação da realidade mediante o agir.
Jornalistas e escritores, portanto, seguem a mesmíssima trilha, definida com maestria pelo poeta romano Terêncio, nesta afirmação: “Homo sum: humani nihil a me alienum puto” (“Sou homem: nada do que é humano reputo alheio a mim”). E nem devem reputar.

Boa leitura.

O Editor.

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