quarta-feira, 29 de abril de 2009


Nossas dificuldades

É complicado ser escritor no Brasil. A primeira dificuldade já surge no acúmulo de atividades. Salvo raras (diria raríssimas) exceções, ainda não é possível (pelo menos à maioria esmagadora) viver exclusivamente de Literatura no País.
O escritor, para garantir seu sustento, precisa de outra profissão: ou é funcionário público, ou jornalista, ou advogado, ou professor etc. etc.etc. Com isso, despende suas melhores energias, dispersa esforços, se esfalfa em outras atividades, que não a criação literária.
Isso, contudo, ainda é o de menos. O escritor brasileiro é um herói. Concluído um livro, por exemplo, com entusiasmo de menino, mas com ingentes sacrifícios, ele precisa empreender uma humilhante e incerta romaria às editoras, se quiser que ele seja publicado.
No Brasil, ainda é bastante rara, quase inexistente, a figura do agente literário, que pode ser comparado (grosso modo) com o empresário de jogadores de futebol. Nos Estados Unidos e em vários países europeus, é ele que cuida de detalhes burocráticos da atividade do escritor. Contata as editoras, acerta contratos e não raro obtém até adiantamentos, antes do livro ter sido sequer escrito, para dar tranqüilidade a quem o irá escrever, entre outras funções.
E no Brasil? Infelizmente, não há nada disso. Mas esta também não é a maior dificuldade. Há outras, muitas outras no caminho do escritor. Uma delas, é a questão da distribuição de seus livros entre os livreiros. Tudo já começa com a dimensão do mercado editorial em relação ao tamanho e à população do Brasil. Pesquisas mostram que apenas pouco mais de cem municípios, dos mais de seis mil existentes, têm livrarias. É espantoso (ou calamitoso?), mas verdadeiro!
Se o escritor conta com uma certa simpatia do sujeito que irá vender seu produto, as coisas ficam um pouquinho mais fáceis. Seu livro é colocado em locais bem visíveis nas livrarias, os balconistas recomendam-no ao cliente e assim por diante. Via de regra, porém, não é o que acontece.
Aquela sua obra, que você se empenhou tanto em escrever, na qual depositou tantas esperanças e que teve tamanha dificuldade em encontrar editor, fica escondida em alguma prateleira de fundo, literalmente invisível, em meio a milhares de outras, quando não permanece meramente num depósito, sem que os livros sejam sequer desempacotados. Então, a conseqüência mais do que certa disso tudo será o encalhe. E, com ele, ou em decorrência dele, o fechamento de todas as portas das editoras para futuras publicações.
Estas, óbvio, não são todas nossas dificuldades, muito menos únicas e, provavelmente, nem mesmo as maiores. No curso das nossas edições, o Literário trará, certamente, à baila muitas outras e, claro, apresentando sugestões para, se não resolver, pelo menos driblar esses problemas. Provavelmente os colunistas darão sua contribuição ao debate, do qual você, querido leitor, destinatário dos nossos textos e do nosso talento, poderá participar. Pelo menos, será, como sempre, bem-vindo às discussões.

Boa leitura.

O Editor.

3 comentários:

  1. Arcar com os custos da publicação, mais os do lançamento, festa e divulgação, é caro. Depois é preciso pedir às livrarias que os exponham em regime de consignação. Isso sem contar a má vontade de quem vai fazer a apresentação no lançamento, que trata logo de citar os defeitos do pretendente a escritor. Então, os exemplares que são vendidos são meras trocas de figurinhas. Melhor nem pensar nos encalhes. Fala-se muito numa obra, mas se vende a quinta parte do que foi de fato lido. Um livro vira cinco no empresta empresta e no xerox. Mesmo assim está bom. Pior mesmo é quando ninguém lê e nem fala no assunto. Aqui em Montes Claros, quando, num lançamento vende-se trinta livros considera-se um sucesso. O normal é não aparecer mais do que umas cinquenta pessoas no evento. Melhor não arriscar-se fazendo mais do que uns quinhemtos livros. Essa é parte da verdade que conheci.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Não podemos pensar nas dificuldades. Elas existem em qualquer área. Três coisas são importantes : Talento, sorte e obstinação. Paulo Coelho tem os três. Estou lendo e adorando a biografia dele. Desde menino ele sonhava, detalhe,em ser um grande e famoso escritor. Contra tudo e todos. Certa vez a mãe dele lhe disse : " Paulo, só existe um Jorge Amado no Brasil. "
    E hoje o " escritor " é conhecido e respeitado no mundo todo. Estranhamente, menos respeitado no Brasil. Não, não sou fã de carteirinha de Paulo Coelho, li apenas três livros dele.Mas hj o respeito. Um Dom Quixote ( o melhor livro que li na vida. Devorei numa madrugada.)? Apenas acreditou. O verbo é ACREDITAR. MUITO.

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