terça-feira, 28 de abril de 2009


Como tratar neologismos

Este nosso espaço na internet destina-se a ser não apenas uma vitrine para que escritores e aspirantes a escritor exponham seus textos (o que, por si só, já é importante e válido) e os submetam à sempre saudável crítica e bem-vindo debate. Mas nossa pretensão é maior, muito maior, bem mais ambiciosa do que somente isso. O Literário objetiva, sobretudo, ser um canal de diálogo para os amantes da Literatura, redatores ou não, em que se exponham dúvidas, certezas, alegrias, tristezas, dificuldades e tudo o mais que se refira a essa fascinante atividade.
Uma das questões que dividem os escritores se refere à criação ou não de neologismos. Quando essa prática é válida? Quando é desnecessária e, portanto, dispensável? As opiniões a respeito se dividem, com as duas partes tendo lá suas razões.
Os que defendem esta prática argumentam que o idioma é dinâmico, vivo, em perpétua transformação. Que tem inúmeras palavras caindo em desuso e outras tantas tendo que ser criadas, para facilitar a comunicação.
Os que se opõem, por seu turno, apontam, principalmente, nossa responsabilidade com a preservação da pureza da língua. Nós, escritores, saibamos ou não, admitamos ou deixemos de admitir, somos guardiões do idioma que utilizamos para a nossa criação.
Como os gramáticos entendem que se deva proceder em relação a isso? Não há nenhuma norma específica (e nem poderia haver), a não ser a do bom-senso, que impeça, quem quer que seja, de “criar” novas palavras, caso sinta necessidade disso.
Na introdução de uma das edições do Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, entre as várias regras que tratam do uso de maiúsculas, de galicismos, anglicismos e de outras tantas questões, há um item que determina como se deve proceder em relação aos neologismos. A recomendação é que estes sejam grafados, “sempre”, entre aspas, para evitar que o leitor desavisado recorra ao dicionário à procura de uma nova palavra que, certamente, não irá encontrar, pois que lá não consta.
Poucos, no entanto – ou por desconhecimento, ou por simples birra – utilizam essa regra. Há, por outro lado, quem exagere na criação de palavras novas, geralmente por carência de leitura, o que torna essas pessoas pobres, paupérrimas em termos de vocabulário.
Os que se valem mais dessa prática (geralmente de forma criativa e, portanto, pertinente) são poetas. Há, no entanto, neologismos, quase sempre emprestados de idiomas estrangeiros (notadamente do inglês e, portanto, “tecnicamente”, meros anglicismos, travestidos de novidade) que se transformam em autênticas pragas. Com isso, corrompem, sem necessidade nenhuma disso, o idioma, do qual nos cabe, reitero, o elevado papel de perpétuos guardiões.

Boa leitura.

O Editor.

2 comentários:

  1. Dou-lhe todo o apoio. Anglicismo, galicismo ... é preciso usar com moderação e propriedade. Vc, caro Pedro, além de perfeito editor, preocupa-se com a integridade do idioma. É trabalho pra se respeitar e tirar o chapéu. Parabéns.

    ResponderExcluir
  2. Caros Pedro
    A lingua é muito dinâmica. O que seria de Guimarães Rosa se não fossem os neologismos? Claro que é preciso ter cuidado, e só quem sabe, pode criar. Vamos nos lembrar de Picasso que aos 8 anos pintava como um mestre, e depois deixou isso de lado e partiu para o Cubismo.
    Não seria a mesma coisa com a literatura, a música, o teatro?...
    Abraços
    Risomar

    ResponderExcluir